ATA DA SEXTA SESSÃO SOLENE DA TERCEIRA SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA DÉCIMA PRIMEIRA LEGISLATURA, EM 20.04.1995.

 


Aos vinte dias do mês de abril do ano de mil novecentos e noventa e cinco reuniu-se, no Plenário Otávio Rocha do Palácio Aloísio Filho, a Câmara Municipal de Porto Alegre. Às dezessete horas e trinta minutos, constatada a existência de "quorum", o Senhor Presidente declarou abertos os trabalhos da presente Sessão, destinada a assinalar o cinqüentenário de fundação do CPERS-Sindicato, nos termos do Requerimento nº 19/95 (Processo nº 94/95), de autoria do Vereador Giovani Gregol. Compuseram a Mesa: Vereador Airto Ferronato, Presidente da Câmara Municipal de Porto Alegre; Professora Iara Wortmann, Secretária Estadual de Educação, representando o Senhor Governador do Estado; Vereador João Verle, representando o Prefeito Municipal de Porto Alegre; Professor Paulo Egon Wiederkehr, Presidente do CPERS-Sindicato; Professor Daiçon Maciel da Silva, Secretário Substituto de Trabalho, Cidadania e Assistência Social; Deputada Estadual Maria Augusta Feldmann; Professora Maria Isabel Bujes, Diretora da Faculdade de Educação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, representando o Reitor dessa Instituição; Vereador Jocelin Azambuja; Vereador Giovani Gregol, Secretário "ad hoc". Ainda, como extensão da Mesa, o Senhor Presidente registrou as presenças do Senhor Israel Palma, Vice-Diretor do Colégio Estadual Júlio de Castilhos; da Senhora Ester Gonçalves, representando a Associação de Supervisores do Rio Grande do Sul, a SERVS; da Senhora Lenita Borges, representando o Chefe da Casa Civil do Governo Estadual; do Senhor Marcos Julio Fuhr, Presidente do Sindicato dos Professores do Rio Grande do Sul; da Senhora Rejane Rodrigues, Secretária Municipal de Esportes; do Senhor José Valdir, Presidente da Fundação de Educação Social e Comunitária; do Jornalista Firmino Sá Cardoso, representando a Associação Riograndense de Imprensa. Em continuidade, o Senhor Presidente convidou a todos para, de pé, ouvirem a execução do Hino Nacional e, após, concedeu a palavra aos Vereadores que falariam em nome da Casa. O Vereador Giovani Gregol, em nome das Bancadas do PT, PDT, PP, PMDB e da Vereadora Maria do Rosário, discorreu sobre a presença do CPERS-Sindicato na história da educação no Estado, analisando problemas referentes a essa área, em especial quanto ao alto índice de evasão escolar hoje existente. O Vereador Jocelin Azambuja, em nome das Bancadas do PTB e do PSDB, falou sobre a importância do professor na sociedade atual, atentando para a necessidade de uma maior valorização desse profissional e comentando a atuação do CPERS - Sindicato nesse sentido. O Vereador Reginaldo Pujol, em nome das Bancadas do PFL e do PPR, saudou o CPERS - Sindicato pelo transcurso de seu cinqüentenário, lembrando as lutas travadas por essa instituição na busca da melhoria do sistema educacional gaúcho. O Vereador Lauro Hagemann, em nome das Bancadas do PPS e do PSB, historiou sobre a fundação do CPERS - Sindicato, analisando o processo político observado na caminhada nos professores rumo à sua concreta sindicalização. Após, o Senhor Presidente concedeu a palavra ao Professor Paulo Egon Wiederkehr que, em nome do CPERS - Sindicato, agradeceu a homenagem prestada pela Casa. Ainda, durante a presente Sessão, o Senhor Presidente registrou as presenças, no Plenário, do Senhor Sérgio Luiz Bitencourt, representando o Movimento de Justiça e Direitos Humanos, do Professor Eliezer Pacheco, ex-Presidente do CPERS - Sindicato, do Doutor Neale Pearson, Professor de Ciência Política da Universidade do Texas, Estados Unidos, e do Doutor Joaquim Faria, Presidente da Associação dos Jovens Empresários do Rio Grande do Sul, e, também, registrou o recebimento de fax do Senhor Olívio Dutra, relativo a presente solenidade. Ainda, convidou a todos para ouvirem a execução de números musicais por grupo de alunos do Colégio Júlio de Castilhos, sob a regência do Maestro Tercílio Poufo. Às dezoito horas e cinqüenta minutos, o Senhor Presidente agradeceu a presença de todos e, nada mais havendo a tratar, declarou encerrados os trabalhos, convocando os Senhores Vereadores para a Sessão Ordinária de amanhã, à hora regimental. Os trabalhos foram presididos pelos Vereadores Airto Ferronato e Jocelin Azambuja, nos termos regimentais, e secretariados pelo Vereador Giovani Gregol, Secretário "ad hoc". Do que eu, Giovani Gregol, Secretário "ad hoc", determinei fosse lavrada a presente Ata que, após distribuída em avulsos e aprovada, será assinada pelos Senhores 1º Secretário e Presidente.

 

 

 


(Obs.: A Ata digitada nos Anais é cópia fiel do documento original.)

 

 

 


O SR. PRESIDENTE (Airto Ferronato): Damos por aberta a presente Sessão Solene destinada a homenagear o cinqüentenário de fundação do CPERS/Sindicato, que teve a aprovação unânime da Câmara Municipal de Porto Alegre e foi iniciativa do Ver. Giovani Gregol, através do Requerimento nº 19/95.

Convidamos para compor a Mesa: a Exma. Sra. Secretária Estadual de Educação, Profa. Iara Wortmann, representando S. Exa. o Sr. Governador do Estado; Exmo. Ver. João Verle, representando o Sr. Prefeito Municipal de Porto Alegre; Exmo. Prof. Paulo Egon Wiederkehr, Presidente do CPERS/Sindicato; Exmo. Sr. Secretário Substituto de Trabalho, Cidadania e Assistência Social, Prof. Daiçon Maciel da Silva; Exma. Deputada Estadual Maria Augusta Feldmann; Exma. Sra. Maria Isabel Bujes, Diretora da Faculdade de Educação da UFRGS.

Convidamos a todos para que, em pé, cantemos o Hino Nacional.

 

(Executa-se o Hino Nacional.)

 

Citamos a presença, como extensão da Mesa, do Sr. Israel Palma, Vice-Diretor do Colégio Estadual Júlio de Castilhos, que neste ato representa o Colégio; da Sra. Ester Gonçalves, representando a Associação de Supervisores do Rio Grande do Sul, a SERGS; da Sra. Lenita Borges, representando, neste ato, o Chefe da Casa Civil, Exmo. Sr. Nelson Proença; do Sr. Marcos Julio Fuhr, Presidente do SIMPRO/RS; da Sra. Rejane Rodrigues, Secretária Municipal de Esportes; do Sr. José Valdir, nosso Vereador e Presidente da FESC; do Jornalista Dr. Firmino Sá Cardoso, representando, neste ato, a Associação Riograndense de Imprensa.

Concedemos a palavra ao Ver. Giovani Gregol, que fala como proponente e pelas Bancadas do PT, PDT, PP e PMDB.

 

O SR. GIOVANI GREGOL: Sr. Presidente. (Saúda os demais componentes da Mesa.) Srs. Vereadores, Lideranças, estudantes, que são o objetivo principal da nossa luta, de existência, tanto da categoria dos professores, como do seu sindicato. A Câmara de Porto Alegre não poderia deixar passar sem homenagear, sem ressaltar, sem prestar também esta e outras formas de solidariedade à causa e à luta dos professores, como a causa maior, eu diria, da educação neste País, quando o CPERS/Sindicato completa 50 anos, precisamente agora, nesses dias. Para mim é uma satisfação ter requerido essa Sessão, mas eu quero deixar bem claro que o apoio, o apreço, o respeito ao CPERS, nesta tarde, é unânime de parte dos trinta e três Vereadores que compõem esta Casa. E, como eu, qualquer um poderia ter solicitado esta Sessão. Além disso, falo em nome da minha Bancada, da Bancada do PDT, da Bancada do PP. E também a Vereadora, muito amiga, Profa. Maria do Rosário, atualmente sem bancada, solicitou-me que falasse em seu nome.

A história do CPERS é uma história muito longa, muito complexa, muito bonita, e ela é de conhecimento público. Ela está à disposição de todos os cidadãos, todos aqueles que acompanham as melhores causas da nossa educação, as causas do povo brasileiro, que acompanham também a vida política do País.

Vamos citar alguns fatos, mas eu acho que seria - nós temos um documento - um tanto enfadonho, dispensável, até, fazer uma listagem de todos os momentos históricos, de todas aquelas pessoas que dirigiram, que presidiram, que tiveram vários cargos nesse Sindicato, várias das quais aqui se encontram e outras que não puderam aqui estar, várias que nos deixaram. Mas é importante ressaltar algumas coisas e, obviamente, a primeira delas é a crise por que passa a educação no nosso Estado e no nosso País. Nós gostamos muito de dizer que o nosso Estado é vanguarda, que, em comparação ao restante do nosso País, é melhor nisso ou naquilo e melhor também nessa parte educacional. Nós ainda podemos dizer que o Rio Grande do Sul se destaca no cenário nacional não só na educação pública, por conta do Estado, mas também no que diz respeito à qualificação, à organização e à politização da categoria dos professores, que construiu uma entidade - um exemplo - logo depois da Segunda Guerra, que é uma referência não só nacional como internacional. Mas com tudo que foi feito não podemos ainda pintar com cores ideais a situação por que passa hoje a educação, em especial a educação pública, no nosso País. Isso não é irresponsabilidade e não é, também, culpa dos professores, das suas lideranças, nem dos seus órgãos representativos. Isso a história tem mostrado e vai mostrar no futuro. Isso é da responsabilidade daqueles altos escalões, principalmente dirigentes, do nosso País, em vários níveis, e de interesses políticos, econômicos e sociais implantados no Brasil e fora dele, que, até pelo contrário, não têm interesse de que o povo brasileiro, a juventude, seja educado. Constatamos essa realidade, da qual o CPERS não foge, fazendo essa avaliação também política e não partidária, e ele tem tido a coragem de colocar à sociedade rio-grandense e brasileira esses fatos.

O que será do nosso País? Nós todos temos que perguntar, junto com o CPERS a nossa frente, dando-nos o exemplo, o que será do nosso País, da nossa juventude, se essa crise não for superada, a médio ou a curto prazo. Hoje, a realidade tem-nos mostrado que, devido ao aviltamento dos salários e das condições de trabalho em geral, a própria profissão dos professores está sendo abandonada. Sabemos, e os dados estatísticos têm demostrado, que a evasão dos cursos de instâncias formadoras de uma profissão tão fundamental, das mais fundamentais em qualquer sociedade digna, de qualquer pátria, está sendo abandonada, com índice de abandono de até 70% ou mais, por aqueles que ingressam na Universidade para se tornarem, ou desejando seguir a carreira de professor e depois evadem, por uma série de motivos, e porque não há uma valorização efetiva da sociedade como um todo e da sociedade, em particular, para a formação ou para a renovação dos quadros do nosso professorado. Então, é uma realidade bastante preocupante. Por isso, não podemos deixar de lutar. Como representantes do povo, não podemos deixar de apoiar de todas as formas, no nosso discurso (e ir muito além dele), na nossa prática, no cotidiano, esta profissão. Nós, independente de partido ou ideologia, temos a obrigação de denunciar essa situação e de encontrar, rapidamente, formas cada vez mais concretas e efetivas - cotidianas até, repito - de travar e reverter a curto prazo essa tendência maligna que vive a estrutura educacional deste País e do nosso Estado.

Quero dizer que existe uma outra faceta. Além do trabalho do professor de sala de aula, trabalho educacional, o que é fundamental - como eu dizia -, já foi dito por vários pensadores que, se pudéssemos investir, construir mais escolas, hoje, agora, certamente, incontestavelmente, precisaríamos construir menos penitenciárias, menos reformatórios e menos asilos no futuro. Parece que o Brasil está adotando, na prática, a filosofia inversa. Tendemos a desvalorizar, a desmontar a nossa estrutura de ensino. Vamos ter que construir mais penitenciárias ou conviver com a criminalidade, com a violência nas ruas.

Mas o CPERS tem feito um outro papel educacional - o de resgatar a cidadania. Eu mesmo sou um exemplo, pois nasci em Porto Alegre e recordo e ressalto que muito da minha educação política informal, não teórica, deu-se através da convivência, assistindo e acompanhando na imprensa e visitando as saudosas grandes greves de noventa dias ou de cento e tantos dias dos professores, que eram realizadas à noite ou de madrugada, onde conversávamos nas ruas ou nas barracas da Praça da Matriz com os professores, com os alunos e com os pais dos alunos. Então, essa é toda uma formação de participação cidadã, de reivindicação dos direitos, de luta não só para benefício próprio e corporativista, que é legítima, que é legal e necessária, como a luta pela melhoria da sociedade como um todo. O CPERS tem dado verdadeiras aulas para a sociedade gaúcha durante esses últimos cinqüenta anos. Ele continua e continuará, certamente, dando essas aulas de cidadania e mostrando como é possível fazer sindicalismo sério, combativo, apartidário, lutando para a melhoria da sociedade. É uma categoria de funcionários públicos, que, diga-se de passagem, tem sido tão penalizada e tão culpabilizada por tudo no nosso País nessa onda neoliberal, inclusive de não querer cumprir as suas obrigações, o que, absolutamente, não corresponde. Os professores estão machucados, estão indignados, mas não estão desesperados. Eles não estão pregando e não estão pretendendo o abandono das suas funções ou de sua profissão. Eles querem e devem continuar como professores. Devemos ajudá-los a serem professores para que continuem cumprindo sua função com dignidade e com eficiência.

Minhas homenagens a esses cinqüenta anos, a esse meio século de existência e de luta do CPERS, e, principalmente, de coerência. Desejo que ele continue assim, batalhando sempre pela nossa educação, pela nossa formação e pela nossa Pátria. Oxalá ele possa durar, no mínimo, mais cinqüenta anos, dando exemplo e construindo, dessa forma tão solidária, tão bonita e tão concreta, o nosso País e o nosso Estado. Muito obrigado.

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Registramos as presenças do Sr. Sérgio Luiz Bitencourt, representando o Movimento de Justiça e Direitos Humanos; do Prof. Eliezer Pacheco, ex-Presidente do CPERS/Sindicato; da Vera. Maria do Rosário; do Ver. João Pirulito; do Ver. Antonio Hohlfeldt; além dos Vereadores que usarão a palavra.

Com a palavra, o Ver. Jocelin Azambuja, que fala pela Bancada do PTB e pela Bancada do PSDB.

 

O SR. JOCELIN AZAMBUJA: Sr. Presidente, Srs. Vereadores. (Saúda os presentes.) Eu não tinha imaginado, Senhores e Senhoras aqui presentes, especialmente senhores professores do Estado do Rio Grande do Sul, poder estar aqui, nesta tribuna, prestando uma homenagem ao CPERS/Sindicato.

Vemos no Plenário vários companheiros de muitas e muitas caminhadas. Não dá nem para citar o nome de todos porque são companheiros de muitas lutas. Nós nos envolvemos na educação participando, quando os nossos filhos ingressaram na escola Presidente Roosevelt. Um dia, por orientação de colegas de Diretoria, uma professora que era representante do CPERS na escola, disse: - "O senhor tem que conversar com os outros CPMs das escolas públicas." Aí a Profa. Magda Dasso disse para o Paiva dar uma olhadinha no CPERS/Sindicato. Então, eu disse: - "O CPERS é aquele da professora muito bacana, Zilá Totta, que vemos sempre se manifestar, assim como o Prof. Hermes Zanetti." Dei uma chegada lá. Na época, o Presidente era o nosso hoje Presidente Paulo Egon e o Secretário-Geral, Prof. Paulo Henriques, que me receberam. Expliquei a situação ao Presidente, que disse: - "O CPERS está aí para apoiar a comunidade; se vocês querem fazer uma reunião, vamos tocar para frente." O Renato agilizou com a Diretoria. Deram-nos as etiquetas com os nomes das escolas, os envelopes. O pessoal todo estava ajudando. Após o envio de uma correspondência, apareceram cento e tantos presidentes de CPMs, surgindo a idéia de fundar a associação que acabou se transformando na Federação dos Círculos de Pais e Mestres que está aí, sempre atuante.

Mas a culpa é do CPERS, do Paulo, do Delmar Steffen e da turma toda que estava lá naquela época. Foi um movimento muito importante, porque essa luta que o CPERS tem empreendido ao longo dos anos, inicialmente com o Centro dos Professores, depois com o Sindicato, tem uma relação muito forte com a comunidade do Rio Grande do Sul. Isto ficou muito latente nestes últimos anos, quando os professores foram cada vez mais agredidos pelos péssimos governos que tivemos, pela desatenção com a educação e passaram, realmente, até a serem jogados contra a própria comunidade. Eu mesmo fui acusado por longos anos e, até hoje, não posso participar de programas de televisão e rádio, porque os jornalistas não me aceitam. Eu era aquele pai terrível que ficava defendendo os professores em vez de fazer os professores irem para as aulas. Sou vetado, porque sou aquele cara chato que ficava lá, criticando.

Então, na verdade, aquele apoio que a gente dava aos professores era uma obrigação, como membro desta comunidade, de respeitar o professor, de mostrar aos nossos filhos que, se nós não soubermos respeitar o professor, nós não temos mais nada na nossa sociedade. Vamos respeitar o quê? No momento em que nós deixarmos desprestigiar o professor, agredir o professor, o que sobrará para esta sociedade? É o que nós, hoje, estamos enfrentando, sentindo neste momento difícil. Eu sempre considerei o Zanetti uma figura muito importante nesta relação, como também a Profa. Teresa Noronha - que tive a felicidade de instituir um prêmio de educação nesta Casa - e a Profa. Zilah, que tanto batalharam. Eu lembro quando fui, pela primeira vez, no CPP, lá na Paraíba. Fui convidado para me manifestar lá, onde havia mais de cinco mil professores reunidos num congresso nacional. Uma coisa maravilhosa! Então, se hoje eu estou aqui, tem muito a ver com essa relação direta com o CPERS, uma demonstração de que o próprio CPERS/Sindicato, ao longo dos anos, através de todas as suas diretorias, das mais diversas correntes, teve sempre responsabilidade com a sua comunidade.

O CPERS, além de defender a sua categoria com unhas e dentes, que é o seu dever, sempre esteve preocupado com a sua comunidade. Nós precisamos fazer com que as entidades, de uma forma geral, tenham esta responsabilidade com toda a sociedade que as envolve, e não exclusivamente com os seus sindicalizados, com seus associados. Isso o CPERS sempre procurou fazer ao longo dos anos. Claro que tem sido incompreendido por muitos na sua luta, tem sido tratado com aspereza, até, nas suas posições, mas essa é a missão do CPERS e essa tem que continuar sendo.

Hoje, graças a Deus, estamos vivendo uma relação mais positiva, até porque a Profa. Iara Wortmann já foi representante dessa entidade, no Conselho Estadual de Educação, e proveio da militância do CPERS/Sindicato e de todas as outras lideranças da educação do Rio Grande do Sul. Sinto que há um clima positivo no sentido de fazer as coisas acontecerem no Estado do Rio Grande do Sul e de retomar um processo que é importante e que funcione. Até o "slogan" no CPERS foi "Resgate". Realmente, tem que ser resgatada a educação no Rio Grande do Sul, e isso é compromisso de todos nós, um compromisso nosso com a comunidade, nosso enquanto Vereadores, dos professores, pais, alunos e de toda a sociedade. Precisamos retomar a relação de participação de escola.

Há pouco, vi o Vicentinho falar sobre as greves, que foi uma fase da vida das relações sindicais, e agora passamos para uma outra etapa, que é a fase da negociação, do diálogo. São momentos da vida de uma sociedade importantes de serem analisados, de serem pinçados para que possamos fazer a história, e é isso que o CPERS tem feito nesses cinqüenta anos.

Lembrava com o Dr. Francisco algumas passagens. Ele comentava de como eu era chato quando trazia 350 mil assinaturas dos colegas da Associação para entrar no Palácio e entregar as tais assinaturas para o Governador Simon e ele não as recebia. Ofereciam-nos o Secretário ou Chefe da Casa Civil, mas, se não fosse o Governador, nós não entregávamos. Voltávamos lá para a frente e ficávamos a tarde inteira. Até hoje o ex-Governador Simon não faz questão de me olhar, mas era um dever que nós tínhamos para com a comunidade. Lembro daquela invasão na Praça da Matriz. Ontem passei por ali, vi os policiais e lembrei do CPERS, daquela invasão, daquela massa de professores em frente ao Palácio. Daí a pouco estava cheio de barracas naqueles canteiros e os militares, apavorados, procurando o Paulo. E o Paulo havia sumido, o Delmar havia sumido. Chegou um capitão e me disse: - "O senhor tem que tirar o pessoal das barracas." Eu respondi: - "Não tenho nada a ver com isso; não sou professor; sou apenas um pai que está aqui pela praça. Procure o Presidente do CPERS." Foi um momento bem interessante, uma passagem que se tem ao longo dos anos. Cada um que está aqui tem tantas outras lembranças das lutas do CPERS.

Essas lutas estão aí, na rua, na consciência da população. O importante é que nós tenhamos presente isso. Todos nós queremos, e eu sei que o CPERS, nos seus cinqüenta anos, através da sua Diretoria e de todas as Diretorias que se sucederem, quer realmente que a educação avance, que a educação seja respeitada, que os governantes olhem a educação como ela deve ser olhada e que o professor tenha, no seio da nossa sociedade, a imagem maior e grande que precisa ter. Nós precisamos venerar, respeitar e ter o professor como o elemento mais forte e importante para o futuro das nossas gerações, dos nossos filhos.

Meus parabéns ao CPERS/Sindicato. Muito obrigado pela oportunidade de poder prestar esta homenagem a todos os professores, e parabéns ao Ver. Gregol e aos Vereadores desta Casa, à Vera. Maria do Rosário e a todos que fizeram também essa homenagem ao CPERS/Sindicato. Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

 O SR. PRESIDENTE: Informamos que o nosso Ver. Jocelin Azambuja é o Presidente da Comissão de Educação da Câmara Municipal de Porto Alegre. A Deputada Maria Augusta Feldmann não pôde permanecer até o final do encontro, pois tem um compromisso assumido em Bento Gonçalves. Recebemos um fax do Sr. Olívio Dutra.

 

O SR. JOCELIN AZAMBUJA: Exmo. Sr. Presidente, tenho de fazer um registro: o Ver. Antonio Hohlfeldt pediu que registrasse que só não está presente porque está dando aula na Universidade neste horário. Por isso também falei em nome do PSDB.

 

O SR. PRESIDENTE: Está com a palavra o Ver. Reginaldo Pujol, que fala pelo PFL e também em nome da Bancada do PPR.

 

O SR. REGINALDO PUJOL: Sr. Presidente e Srs. Vereadores. (Saúda os demais componentes da Mesa.) Há poucos momentos, antes de se iniciar a Sessão, eu tinha a satisfação de compartilhar a bancada onde me encontrava com a Dep. Maria Augusta Feldmann, que esteve conosco até há pouco tempo e que não pôde permanecer na Casa até o encerramento desta Sessão de homenagem ao CPERS/Sindicato por motivos já anunciados.

Com ela eu comentava a circunstância de que me encontro num estado gripal bem avançado, fácil de ser percebido por quantos me ouvem neste momento. Dizia-lhe, em tom de brincadeira, que alguém me havia dito que eu estava sendo vítima da "gripe do CPERS", querendo dizer, com isso, que eu estava sendo vitimado por um mal-estar súbito, persistente, duro de ser dobrado e incapaz de soçobrar sem que apresentasse sinais evidentes de resistência. Eu lhe disse que corrigia essa colocação e que acreditava que a minha presença na tribuna era uma homenagem ao CPERS, porque o que me trazia a ela, além da responsabilidade de homenagear esse Sindicato em nome da minha Bancada, em nome do Partido da Frente Liberal e do Partido Progressista Reformador, cujos integrantes - o Ver. João Dib e o Ver. Pedro Américo Leal - me conferiram e outorgaram essa honraria, era o reconhecimento de que o CPERS é uma entidade que não se dobra e que, diante de uma enfermidade muito grande de educação rio-grandense e brasileira, se posiciona. Se, durante cinqüenta anos o CPERS foi capaz de não se dobrar diante desse quadro de enfermidade crônica que se instalou na sociedade rio-grandense, não seríamos nós que, por um estado gripal momentâneo, deixaríamos de ter o privilégio de comparecer a esta Sessão e, em nome do nosso partido - o PFL -, manifestar nosso reconhecimento, como representantes da sociedade, à luta que o CPERS tem feito em prol da educação e dos trabalhadores de educação do Rio Grande do Sul. Por isso, Prof. Paulo Egon, no qual quero concentrar a nossa homenagem e saudação, saiba que nós, do Partido da Frente Liberal e do Partido Progressista Reformador, temos, para com o CPERS, seus integrantes, seus dirigentes e sua história de lutas, um respeito muito profundo e uma admiração muito grande.

Em verdade, quando se fala que a sociedade brasileira precisa ser sacudida, transformada e modificada, quando partidos como o meu sustentam bandeiras entre as quais se prega a modernidade liberal, em nenhum momento alguém advoga que o Estado se demita da sua mais importante e fundamental atividade, que é a educação. Evidentemente, se nós temos esse entendimento, não poderíamos, de forma nenhuma, em circunstância por mais adversa que se apresentasse, deixar de, numa ocasião como esta, comparecer na Câmara de Vereadores. E, sem a menor vacilação, muito antes pelo contrário, com a maior tranqüilidade, oferecemos a nossa opinião a respeito do significado da luta desenvolvida pela entidade que estamos homenageando hoje, que completa o seu cinqüentenário.

Por isso, Prof. Paulo Egon, todos nós, do PFL e do PPR, somos altamente reconhecidos pela capacidade de luta do CPERS, que pugna pelas causas mais respeitáveis, mais dignas e mais louváveis e se mantém com coerência na sua posição. Isso por si só justificaria a nossa homenagem, mas, mais do que isso, observamos, na luta do CPERS, uma verdadeira cruzada pelo bem maior que uma sociedade civilizada pode procurar, que é o bem da educação, da possibilidade do ensino, da cultura e do conhecimento para toda a sociedade e todos os seus segmentos. Evidentemente, é necessário que se diga com toda a clareza: quem defende a educação defende o professor, o trabalhador em educação, porque alguém já disse que é possível que se construa uma usina elétrica optando-se pela fonte energética que vai motivar a produção da energia - se é hídrica, térmica, eólica ou qualquer outro tipo de energia -, mas ninguém encontrou, nem encontrará, uma forma de fazer educação que não tenha como mola propulsora o professor, o seu conhecimento, a sua dedicação e a sua disposição.

Então, Dra. Iara Wortmann, que representa o Governador Antônio Britto, nós, que nos juntamos no sentido de fazer um Rio Grande unido e forte, temos que ter a tranqüilidade e a serenidade de proclamar o Rio Grande. O nosso objetivo não será alcançado e os objetivos do Governador Antônio Britto ficarão prejudicados se este Rio Grande unido e forte não for obtido pelo caminho do resgate da educação do Rio Grande, pelo respeito ao Sindicato do Centro dos Professores do Estado do Rio Grande do Sul, pela manutenção do clima de diálogo respeitoso e, sobretudo, pelo trabalho permanente no sentido de resgate da dignidade da atividade do magistério no Estado, resgate esse que passa, sim - por que não salientar? -, pelo atendimento das reivindicações justas que se alongam no tempo e que se agravaram ultimamente na nossa história, que diz com a manutenção de um padrão de dignidade de vida capaz de manter o magistério com altivez necessária para que ele cumpra a sua missão.

Nesse sentido, eu compareci à tribuna, em meu nome e em nome do Partido, em nome do PPR e em nome da corrente de opinião que nós representamos, para dizer: Prof. Paulo Egon, leve aos seus companheiros e companheiras de trabalho a nossa mais profunda homenagem e, mais do que a homenagem, o nosso profundo respeito sobre a grande atividade que em conjunto têm desenvolvido no Estado. E prossiga, para que nós possamos, no cinqüentenário ou em outra data qualquer, voltar à tribuna e dizer: o CPERS continua, ao longo do tempo, merecedor do nosso respeito. Era isso, senhores. Muito obrigado. (Palmas.)

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Nós gostaríamos de registrar a presença do Dr. Neale Pearson, Professor de Ciência Política da Universidade do Texas, que faz uma visita a esta Casa e que honra a todos nós.

Nós convidamos agora para falar em nome da Bancada do PPS o Ver. Lauro Hagemann.

 

O SR. LAURO HAGEMANN: Prezado Ver. Jocelin Azambuja, no exercício da Presidência, e demais membros da Mesa. (Saúda os componentes da Mesa.) É justa esta homenagem que se presta hoje, nesta Casa, ao cinqüentenário do CPERS. O CPERS é uma instituição pública que honra a cidadania de Porto Alegre e do Rio Grande do Sul e, por extensão, do Brasil.

O CPERS nasceu em 1945, numa época - que se pode ainda rememorar - de graves complicações. Estávamos assistindo ao término da Segunda Guerra Mundial, a vitória das forças democráticas sobre o nazi-fascismo, e o professorado integrando essa corrente de euforia, de aspiração por um espaço maior, de mais liberdade, porque nós também, aqui no Brasil, havíamos passado por quinze anos de aberturas políticas.

Eu quero fazer um breve parêntese para lembrar de uma das fundadoras do CPERS, ainda viva, Profa. Sueli Goulart, esposa de Luís Goulart, um militante do velho Partido Comunista. As Professoras Marisa Abreu e Maria da Graça Bulhões escreveram um livro em que relatam algumas histórias a partir do surgimento do CPERS.

O estamento social representado pelo magistério, desde aquela época há até pouco tempo, impediu de certa forma que o CPERS se inserisse, desde logo, nas lutas comuns do movimento operário, do movimento trabalhador. Invoco meu testemunho pessoal, dirigente sindical ainda na década de 50, 60. Nós tínhamos muitas dificuldades em trazer o Centro dos Professores para dentro do movimento comum dos trabalhadores. O famoso MIA - Movimento Intersindical Antiarrocho -, que foi espaldeirado, muitas vezes, pelas ruas da Cidade, não conseguia trazer o CPERS para dentro do seu seio. Só mais recentemente é que o magistério começou a se dar conta de que ele fazia parte e era, também, empurrado contra a parede pelo modelo econômico, pelas circunstâncias políticas, por tudo o que nos cercava, junto com os trabalhadores da indústria, do comércio, dos serviços. E hoje já se fala nitidamente no trabalhador da educação. Já se confundem os termos - professor, trabalhador da educação. Então, o CPERS tem este papel, desempenhado com muita luta, com muito sacrifício, ao longo desses cinqüenta anos. Hoje o CPERS está momentaneamente distraído por uma reivindicação corporativa e faz disto o seu papel. Mas o papel do CPERS, ao longo desse tempo... E acho que está começando, aparecendo a hora de se preocupar também com o processo educacional.

A sociedade humana está vivendo hoje, como um todo, um processo de educação muito grande, e a educação representa, nesta transformação, um papel fundamental. Temos aí já alguns escritores avançando sobre o que será o futuro da educação. Temos hoje a informática presidindo este papel importante. Tenho a convicção de que jamais o professor poderá ser substituído por um simples aparelho, mas que este aparelho vai representar um avanço muito grande no processo educacional - isso já se sabe, e está ocorrendo em muitas partes do mundo - e esse aparelho vai ter que ser tomado pelo homem para que sirva para seus propósitos e não para que o homem seja apenas um objeto dessa nova tecnologia. Nesse papel, o professor, o magistério, através de suas corporações, tem um papel decisivo de apontar o caminho. Como antes o professor apontava o caminho aos alunos, o professor moderno aponta o caminho não apenas para seus alunos, mas para toda a sociedade. Ele tem um papel reitor nesse processo de transformação.

Sem querer alongar-me, eu quero dizer ao CPERS, com quem tenho longa convivência de muitos e muitos anos fraternos, solidários, proficientes, que nós temos esse dever de solidariedade. Ainda há muito pouco tempo tentaram quebrar o CPERS. Foi muito visível essa tentativa, mas felizmente a categoria soube reagir, um pouco dispersa, inicialmente, mas hoje já consolidada numa visão de que a sua unidade é a segurança de que a entidade vai prosseguir rumo ao centenário.

Meu caro Professor, minha cara Secretária, caras professoras, enquanto houver cidadãos no mundo, o professor será uma figura imprescindível, e é isso que nós desejamos e é por isto que nós estamos aqui: para homenagear o cinqüentenário do CPERS. Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Antes de passar a palavra ao Presidente do Sindicato, Paulo Egon, gostaria de dizer que o Ver. Lauro Hagemann falou também em nome do PSB, representado na Casa pelo Ver. João Pirulito, que está presente no Plenário.

Com a palavra, o Presidente do CPERS, Paulo Egon Wiederkehr.

 

O SR. PAULO EGON WIEDERKEHR: Sr. Presidente. (Saúda os componentes da Mesa.) Srs. Vereadores, Ver. Giovani Gregol, que solicitou e requereu esta Sessão com apoio de toda esta Casa, que muito nos orgulha. Permitam-me saudar também os meus companheiros de Diretoria, lideranças dos núcleos, das escolas, funcionários de escola, e também a minha saudação especial aos professores aposentados que estão sempre conosco, acompanhando-nos nessa luta.

É uma honra muito grande, neste momento, termos a oportunidade de representar este Sindicato que está completando cinqüenta anos - sindicato cinqüentão. Na verdade, se nós observarmos, após a Segunda Guerra, em um momento de euforia, em um momento social propício - mas também já naquela época um grupo de em torno vinte professoras primárias inconformadas com a situação da categoria, inconformadas com a qualidade de vida de escola primária criaram o Centro dos Professores Primários Estaduais -, nessa época os professores ansiavam por uma organização que unisse e fortalecesse a classe para buscar, junto ao Governo do Estado, propostas claras e concretas para crônicos processos e problemas daquela época, há cinqüenta anos, como designação de pessoal, formação e qualificação de pessoal, salários justos, condição funcional e escola provida de equipamentos necessários para seu adequado funcionamento. O interessante nisso tudo, se observarmos, é que esse discurso tem reivindicações, tem um estágio bastante atual, se observarmos o que se sentia na época, o que levou à fundação dessa entidade. O mais interessante nisso é que eram chamadas de um grupo de agitadores, subversivos ou até comunistas. Vejam bem que "comunista" era um termo preconceituoso. Eu enfrentei isso muito tempo depois, meu prezado Ver. Lauro Hagemann.

Eu trouxe aqui, para ilustrar, o primeiro estatuto da entidade, que nós guardamos num cofre no CPERS, que trazia esses princípios na época da fundação do CPERS, o que é interessante, também, em termos de organização. Eu tenho aqui um discurso feito pela primeira presidência, Profa. Clélia Ferrão, quando o CPERS completou 25 anos, e ela dizia que era um momento de júbilo, sentindo que os professores eram uma classe desorganizada até então e que devia externar o seu pensamento porque suas necessidades mais reais não estavam sendo consideradas. Abandonou o comodismo, o marasmo em que dormia e despertou para a luta.

O que podemos dizer é que o CPERS nasceu com a marca da combatividade, nasceu com a marca da luta e da mobilização por salários, pelo reconhecimento profissional, pela regularização da vida profissional, pelo aperfeiçoamento profissional, mas também pela luta da qualidade do ensino. Essa marca fez com que os professores primários, há cinqüenta anos, fundassem o Sindicato. Isso caracteriza essa marca, essa história realmente por um profundo vínculo com a sociedade, sempre com um grande entrelaçamento na própria sociedade, expressando os próprios anseios da sociedade. E se passaram daí os períodos todos de resistência democrática, governos, períodos de exceção. Os períodos mais difíceis - o Ver. Jocelin lembrou bem - foram aqueles períodos em que nós ficamos na frente das baionetas na frente do Palácio. Se nós observarmos essa história, nós realmente teremos um longo espaço para contar. Nós não queremos contá-la, mas, especialmente, lembrar alguns episódios. É interessante na organização da entidade.

Ela começou com uma estrutura centralizada na Capital, o CPERS tendo, inicialmente, um pequeno número de sócios, mas centralizado e com supervisores regionais. Em 1965 começaram a surgir os primeiros núcleos; hoje temos quarenta e dois núcleos no CPERS/Sindicato - inclusive dois na Capital e quarenta no Interior. O primeiro núcleo nasceu em Caxias do Sul e depois em Santa Maria até dezembro de 1972. Isso é importante para registro. Durante quase três décadas era o Centro dos Professores Primários Estaduais e, em 1972, numa assembléia representativa, nós transformamos o CEPEPERS - Centro dos Professores Primários Estaduais, no Centro dos Professores do Estado do Rio Grande do Sul. Em dezembro de 1989, transforma-se em sindicato, evidentemente um passo importante - só em 1989. A partir de 1990, nós integramos os funcionários de escola e aí nós representamos os trabalhadores da educação - são os professores e os funcionários de escolas.

Eu acho isso muito importante em termos de período de organização da entidade. Foi um processo muito grande. Os Vereadores Lauro Hagemann e Jocelin Azambuja lembraram muito bem esses períodos em que se vivia. Havia, realmente, um sindicato com concepção, na época, inclusive, com preconceitos em cima dos demais trabalhadores. Nós tivemos todo um processo de amadurecimento, de conscientização que se conseguiu através da luta. Isso é muito importante registrar. Nós tivemos avanços, recuos e muitas coisas. Eu acho importante, pelo menos, registrar algumas conquistas. Nessa história de conquista, isso é muito importante. Elas foram conquistadas com luta.

Eu acho que a história nos serve muito para analisarmos o presente, mas também para projetarmos o futuro. Tudo que se conquistou foi através de muita luta. Nós conseguimos, nesse período, entre tantas e tantas outras coisas, equiparação salarial entre os contratados e os de carreira, o ingresso de professores normalistas em faculdades de Filosofia. Vejam bem a presença permanente da preocupação com o aperfeiçoamento profissional, a importância do CPERS nesse período para a construção da profissão e da própria educação, o próprio Plano de Carreira. Conseguimos a construção de uma sede de nove andares no Centro de Porto Alegre; a construção do Clube do Professor Gaúcho. Hoje temos quarenta sedes no interior do Estado, sendo quinze sedes próprias, com todos os núcleos equipados, trabalhando no aperfeiçoamento profissional, nas lutas da categoria, e trabalhando em projetos de educação para resgatar a qualidade de ensino. Nós estamos com uma representação no Conselho Estadual de Educação. Conquistamos 35% da arrecadação líquida para a educação, a eleição dos diretores das escolas, conquistamos dois e meio salários mínimos - depois foram retirados, foi argüida a inconstitucionalidade -, o 13º salário, a questão da aposentadoria especial, a criação dos Conselhos Escolares, que vai ser um passo muito importante na democratização do sistema de ensino.

Acho que, junto com isso tudo, há uma questão importante que precisa ser salientada, que é esse período todo pela luta da qualidade de ensino e pela dignidade de uma categoria profissional. A luta pela dignidade. É importante se observar o processo de mobilização desde a sua fundação e, a partir dali, todos os diferentes períodos e as diferentes formas. Mas, em termos de mobilização, é interessante observarmos o seguinte: a primeira manifestação de professores - manifestação pública - aconteceu sabem quando? Em 1956. Os professores e associados, junto com os professores do Colégio Júlio de Castilhos, saíram do Theatro São Pedro e foram até o Palácio Piratini entregar um documento de reivindicação ao Governo do Estado. Aliás, isso nós até estamos bastante acostumados a fazer, só que o Theatro São Pedro ficou pequeno para nós e, depois de tanto tempo, nós, hoje, temos reiteradamente feito isso com a participação da comunidade, de pais e estudantes. Acho importante registrarmos isso. No início da década de 60 fizemos a primeira greve; em 1962 e a partir de 1979, com a deflagração por melhores salários, regularização da vida funcional e a existência de concursos públicos, e, se observarmos os acordos - tenho cópias comigo -, nos perguntamos: será que um dia tivemos que lutar por isso? Não é possível que uma categoria teve que lutar por verbas e a possibilidade de atuar, institucionalmente, em termos democráticos. Todos esses acordos merecem estudos para vermos pelo que a categoria lutou. E muitas vezes ela é taxada de haver lutado somente para reivindicar  salários mais altos.

Gostaria que se fizesse um estudo sociológico de tudo que aconteceu e das dificuldades que tivemos, do que falavam por lutarmos por isso. Não posso citar todos os acordos, porque levaria muito tempo, mas preciso aproveitar a oportunidade para dizer isso diante de tantas autoridades que estão presentes numa Sessão tão representativa, falar sobre a luta da categoria, que tem sido para nós extremamente importante e para a educação.

Nesse período de 1979 até hoje, iniciou-se um período de intensa mobilização, com greves, com paralisações, em cima das questões, às vezes, mais simples, mais óbvias, que se precisava reivindicar: respeito à dignidade profissional, questões salariais. Já diziam Paulo Freire e outros filósofos que a questão da sobrevivência, lutar pela sobrevivência, é muito mais que um direito, mas, sim, um dever do cidadão e, junto com isso, todas as cláusulas que envolviam o sistema do ensino, seu aperfeiçoamento, a qualidade do ensino. Então, esse período foi muito rico, onde amadurecemos, crescemos, por ter-se constituído num período de muitos debates, muitas discussões, muitas emoções.

Gostaria de dizer o seguinte: sem dúvida, depois de termos participado do movimento das "Diretas", em que sempre estivemos envolvidos, quando se conquistou a democracia, também passamos por grandes dificuldades, mesmo que fossem governos eleitos, especialmente no período anterior, onde talvez tivéssemos passado um dos piores períodos. No ano passado, foi um período extremamente difícil, de repressão, de despotismo, de ausência de diálogo e um período profundamente nefasto para a escola pública do Estado. Se estudarmos a história da educação do Estado desde a antiga Província, veremos que os discursos eram sempre os mesmos, só que a prática não acontecia. Na antiga Província, os candidatos a governos e os governantes falavam que a educação estava em primeiro lugar. E isso estamos vivendo. A nossa luta, hoje, é para não ficar só no discurso. Estamos, realmente, cansados de ouvir discursos, porque entendemos que está na hora de transformar os discursos em ação concreta e ação prática.

Através de tantos encontros de educação que fizemos, gostaria de registrar que o projeto da atual Direção - vários colegas da Diretoria, diretores de núcleos e representantes de núcleos de escolas estão presentes - tem uma proposta de sindicato que denominamos de "sindicato cidadão", que é o sindicato que em nenhum momento deixa de reivindicar, que não perde o seu caráter reivindicatório, seu caráter de mobilização, porque sindicato sem mobilização é um sindicato que perde a sua alma, que perde a sua vida. A vida do sindicato é o seu associado, é a sua categoria mobilizada, atuante, combativa e participante e representa o respeito às suas instâncias democráticas. Então, para isso, entendemos que o sindicato jamais pode perder características. Esse é o seu papel intrínseco. A proposta do "sindicato cidadão" é uma proposta que pretende enfrentar os desafios  de um novo século, de ser um sindicato capaz de compreender o seu papel na sociedade, de discutir os grandes temas da sociedade, de ter uma maior inserção na sociedade e de compreender o papel na mudança social, não se restringindo às lutas corporativas, mas ampliando o seu papel dentro da sociedade, dentro de uma nova perspectiva e dentro de uma capacitação para enfrentar os desafios que vimos enfrentando, discutindo os grandes temas, como: o papel do Estado, o que é um orçamento do Estado, propostas de educação, e assim por diante. Entendemos que este é o grande desafio que estamos enfrentando. Pretendemos, através do "sindicato cidadão" e através da própria modernização do Sindicato, ter esse papel fundamental para que possamos conseguir resgatar a qualidade do ensino, que é um dos eixos básicos que estamos trazendo da atual Direção do CPERS: o resgate da qualidade do ensino.

Encaminhamos ao Sr. Governador do Estado uma proposta, fruto de vários encontros de educação, onde apresentamos princípios, fundamentações que entendemos serem importantes para a construção de um ensino de qualidade em nosso Estado. Entregamos ao Governo do Estado e aos diferentes segmentos. Nesta proposta de resgatar a qualidade do ensino precisamos resgatar a dignidade salarial da categoria. Não podemos pensar em salvar a educação pública do Estado, não podemos pensar em resgatar o ensino do Estado com o professor vivendo em situação de calamidade. Lamento ter que informar isto aqui: nós temos professores passando fome, sendo despejados, com corte de água, corte de luz, professores vivendo em estado de miserabilidade.

Aproveitamos a presença de tantas autoridades, da Secretária de Educação, representando o Governador, para dizer que é necessário tomarmos medidas urgentes, inclusive através da proposição da própria Assembléia Geral da categoria. A categoria requer medidas de emergência para a educação no Estado diante da situação de calamidade. Entendemos que a pior calamidade que podemos pensar é a calamidade na educação. Quando perdemos a educação, o povo perde o seu espírito, perde a sua alma, a sua vida, sem a educação. Não podemos permitir. Estaremos obstinadamente lutando pela nossa educação nessa direção, através do diálogo, através da negociação, mas, sobretudo, sabemos, através da pressão, da mobilização e da luta. Este é o nosso símbolo.

Ao encerrar, eu quero colocar o seguinte: quantos de nós já passaram pelo CPERS? Nós que estamos aqui também passaremos, mas o CPERS vai ficar de pé. Tentaram derrubá-lo, mas nunca conseguiram, e não vão conseguir, porque ele luta por uma causa justa. E nós estamos passando; agora podemos afirmar que o CPERS continuará um símbolo. E digo mais: é um templo de resistência democrática na luta pela educação e na luta pelas mudanças da sociedade neste Estado. Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Nós registramos as presenças do Ver. Clóvis Ilgenfritz e do Dr. Joaquim Farias, Presidente da Associação dos Jovens Empresários do Rio Grande do Sul.

Sob a regência do Maestro Tercílio Poufo, a apresentação do grupo musical de alunos do Colégio Júlio de Castilhos.

 

O SR. TERCÍLIO POUFO: Vamos apresentar apenas duas ou três músicas homenageando o CPERS - 50 anos.

Esses dias, o Ver. João Dib, numa homenagem que fez a uma professora do Colégio Farroupilha, começou citando D. Pedro II, que disse: "Não fosse eu imperador, seria professor". Em todos os casos, é forjar idéias que importa esta nossa caminhada de professores.

Eu quero congratular-me com o Ver. Giovani Gregol, que foi meu aluno de inglês e português, lá no Colégio Anchieta - por sinal, um bom aluno. Se as idéias não forem bem forjadas, aí é que está o problema. Uma Irmã religiosa do Colégio Anchieta me disse assim: - "Professor, calma Professor, calma: daqui a quatrocentos anos nós chegaremos aonde chegou o meu povo. É mais fácil desintegrar o átomo do que mudar a idéia".

Nós vamos começar cantando uma música que diga respeito a alguma coisa nossa aqui, do Rio Grande do Sul. Peço que um só aluno cante para nós o "Carinhoso", depois o "Vento Negro" e,  por último, o "Canto Alegretense".

 

(As músicas são executadas.) (Palmas.)

 

O SR. PRESIDENTE: Eminente Secretária, Profa. Iara Wortmann, eminente Presidente, Prof. Paulo Egon, eminente Ver. Secretário Substituto, Prof. Daiçon Maciel da Silva, nosso eminente Vereador e Professor João Verle, eminente Profa. Maria Isabel, ilustres Vereadores, muitos dos quais também professores e aqui presentes, Srs. Professores, Professoras, Senhoras e Senhores. Gostaria de parabenizar, em nome da Casa, pela belíssima apresentação, o nosso grupo musical dos alunos do "Julinho" e ao nosso maestro.

Morei, dos seis aos dezessete anos, numa escola pública municipal, no interior do Município de Arvorezinha. Minha mãe era professora primária. Foi a minha primeira professora. Lembro da época em que ela lecionava, quando tínhamos a turma do primeiro ano adiantado, primeiro ano atrasado, segundo atrasado, e assim ia até o quinto. Eu mesmo tive a oportunidade de repetir cinco anos o 5º ano, porque no interior de Arvorezinha não existia o II grau. Então, tínhamos que esperar a oportunidade para sair de lá e vir para Porto Alegre. Nasci e me criei ouvindo falar na educação, do professor, do problema da educação, da importância da educação, da importância do professor e na valiosa e estimada posição e serviço que sempre prestou o nosso aniversariante, o CPERS/Sindicato.

Entre as coisas boas que a vida tem-me oferecido, gostaria de registrar que fui, durante quatro anos, 1º Vice-Presidente da Câmara Municipal de Porto Alegre e tive a oportunidade de presidir uma série de Sessões Solenes. Tenho a certeza de que todos os Vereadores aqui presentes participaram de uma série de Sessões Solenes. Estava falando com a Profa. Iara que a Câmara Municipal de Porto Alegre tem desenvolvido belas Sessões Solenes, mas eu quero dizer que, na minha avaliação - sinto-me emocionado até -, foi esta, sem dúvida nenhuma, a Sessão Solene mais bonita que a Câmara Municipal de Porto Alegre realizou.

Parabéns ao nosso CPERS/Sindicato e parabéns à sua Direção, suas Diretorias anteriores, parabéns aos professores, e Deus salve e proteja a todos os professores! Boa noite a todos!

Estão encerrados os trabalhos.

 

(Encerra-se a Sessão às 18h50min.)

 

* * * * *